Janeiro branco é um movimento de conscientização sobre a saúde mental em seres humanos e teve início no ano de 2014. Seu principal objetivo é alertar as pessoas para além das doenças mentais e qual a importância de se cuidar mentalmente.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde mental é definida como “um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade". E como e por quê esse tema foi trazido para a veterinária e nossos amados pets?
A medicina veterinária vem sofrendo constante evolução, e a área de comportamento, bem-estar e psiquiatria animal é uma delas. Diversos são os estudos que buscam dados científicos do bem-estar e de como funcionam as emoções dos animais. Há alguns anos, a preocupação com o estresse em cães e gatos tem se tornado a maior fonte de pesquisa e muitas doenças já foram reestruturadas para esse âmbito de comportamento. Um exemplo é a Síndrome de Pandora, termo utilizado para definir o conjunto de distúrbios resultantes da Cistite Intersticial felina, que não caracteriza apenas problemas no trato urinário inferior, mas também aspectos psicológicos e endócrinos.
Cada ano que passa esses estudos avançam e mais se sabe sobre saúde mental de cães e gatos e, por isso, atualmente a campanha Janeiro Branco também se estendeu para a veterinária, pois já sabemos que pets sofrem por doenças mentais e que muitas vezes não são diagnosticados nem tratados de maneira adequada. Como o estresse costuma ser a causa base da maioria desses distúrbios, hoje iremos abordar um pouco sobre o seu impacto em cães e gatos, além de como detectar a doença, as maneiras de evitar e quando buscar a ajuda de um profissional da área.
Mas, afinal, o que é o estresse?
Ao pé da letra, o estresse pode ser definido como um estado mental ou emocional de tensão contínua que pode desencadear consequências negativas para a saúde geral do pet em questão.
Na medicina veterinária, o estresse em cães e gatos está diretamente relacionado a um fator estressor, ou seja, qualquer coisa que desencadeia uma sensação de medo ou ameaça no pet e ativa o Sistema Central de Resposta a Ameaça, o SCRA.
Ao ativar o SCRA, o estresse é capaz de acionar 3 tipos de respostas no cão ou no gato:
- Respostas autonômicas: que se manifestam principalmente por um comportamento de medo, respiração ofegante, batimentos cardíacos acelerados, pupilas dilatadas, respostas de agressividade (na tentativa de fugir da situação estressante);
- Respostas músculo-esqueléticas: aumenta as respostas comportamentais de hipervigilância ou congelamento (quando o pet paralisa por medo);
- Respostas hormonais: o aumento da secreção de cortisol (responsável pelas respostas estressantes) pode desencadear o aumento de outros hormônios (como catecolaminas, noradrenalinas) e resultar em um metabolismo mais acelerado, aumento das funções cardíacas, renais, musculares, entre outros.
Quando esse sistema é constantemente ativo, como no caso do estresse crônico, que será descrito mais à frente, esse excesso de respostas podem desequilibrar o funcionamento normal do organismo do seu pet e resultar em muitas alterações e doenças.
Como identificar o estresse em cães e gatos e quais os impactos para os pets?
Os sinais clínicos do estresse dependem muito do tempo que o pet se encontra nessa situação estressante. Por isso, podemos dividi-lo o estresse em duas categorias: estresse agudo ou fisiológico e estresse crônico ou patológico.
O primeiro é definido como uma situação rotineira em que o pet consegue se recuperar normalmente sem impactos para sua saúde. Ele corre por um período curto (pontual) e não causa grande desconforto ao animal. Como exemplos podemos citar um barulho diferente que ocorre e o deixa em alerta; o próprio ciclo do dia (acordar, levantar e se alimentar); todos os eventos que são pontuais e em que o pet consegue retornar à rotina sem apresentar outros sinais.
Já o segundo, chamado de crônico ou patológico, é quando o estresse agudo ou se torna frequente e duradouro ou quando o pet está inserido em um contexto conflituoso, isto é, não possui todas as suas necessidades básicas atendidas ou está submetido a uma situação ruim e não pode sair. Como exemplo: espaço em que fica for pequeno; não ter brinquedos; passar fome ou frio; medo constante por apanhar ou ter brigas em casa.
Ambos os estresses desencadeiam a cascata hormonal citada acima, mas o problema vem quando o estresse crônico se instala e o pet começa a apresentar alterações gerais em sua saúde ou estado emocional, com alterações comportamentais significativas.
Um pet estressado pode apresentar sinais como:
- Apetite seletivo/caprichoso ou um apetite compulsivo, querendo a todo momento comer algo;
- Ficar inquieto e irritado, latindo ou miando o tempo todo sem um motivo aparente;
- Ficar mais reativo a interações ou barulhos, podendo inclusive se apresentar agressivo com outros pets ou pessoas da casa;
- Ficar extremamente quieto e evitar interações que antes gostava;
- Não brincar nem demonstrar interesse por brincadeiras;
- Arrancar os próprios pelos e até se automutilar, gerando feridas em pelo;
- Queda na imunidade, ou seja, ficar constante doente por causas virais ou bacterianas;
- Apresentar doenças físicas, como problemas urinários (muito comum em gatos), marcação territorial excessiva, dermatites, disbiose intestinal, aumento da pressão sanguínea, doenças endócrinas (relacionada a hormônios, como a diabetes), entre outras.
Além disso, um pet que possui estresse crônico, também tem uma queda na qualidade e na expectativa da vida dele, pois o estresse aumenta a quantidade de radicais livres no organismo, que consequentemente contribui para uma “velhice precoce”, predispondo a muitas doenças, como enfermidades cardíacas e renais, além de disfunção cognitiva.
Como evitar o estresse em seu pet?
A prevenção para o estresse em cães e gatos começa em estabelecer um ambiente saudável com todos os recursos básicos que eles vão precisar de maneira não centralizada e acostumá-los a todos possíveis manejos que vão receber ao longo da vida, como tomar medicação, escovar os pelos, cortar as unhas, entre outros.
Os recursos básicos gerais para um cão ou um gato são:
- Água limpa e alimentação equilibrada, sempre em potes separados e distantes um do outro, principalmente para gatinhos;
- Brinquedos interessantes e atrativos sempre em boas condições e de preferência em rotação (ou seja, depois de brincar deve ser guardado e trocado por um outro brinquedo);
- Os brinquedos para roer para os cães devem estar sempre disponíveis e renovados quando forem mastigados demais;
- Seu pet deve ter um local de privacidade e limpo para realizar suas necessidades. Para os gatinhos é imprescindível manter a caixinha de areia sempre limpa e para os cães o tapete higiênico deve ser constantemente trocado, pois o cheiro de xixi é muito incômodo e eles podem desenvolver problemas comportamentais ou de saúde por segurar as necessidades;
- Seu gatinho deve possuir locais de segurança em casa, como caminhas em lugares altos e torres de arranhadores;
- Seu cão deve possuir uma rotina de passeios em que possa cheirar e desvendar o mundo através dos cheiros.
Esses recursos devem ser disponibilizados para seu pet em locais de fácil acesso e nunca no mesmo cômodo. Junto a esses itens básicos, é recomendado as atividades de enriquecimento ambiental, amplamente discutidas e apresentadas por diversos profissionais.
Como tratar o estresse em seu pet?
O tratamento depende muito de como seu pet está e se já desenvolveu algo a mais, como uma das alterações citadas acima. Em caso do cão ou gato apresentar alguma doença física, é importante levá-lo para uma consulta veterinária geral para que receba o tratamento adequado.
Quando os sinais clínicos não refletem em nada físico nem em algum exame, já é indicado buscar o auxílio de um profissional comportamentalista. Ele pode ser um veterinário, um biólogo ou um psicólogo, desde que possua especialização na área animal. Todo “tratamento” para o estresse começa com um manejo básico do ambiente e da rotina desse pet e vai evoluindo de acordo com as demandas que vão surgindo.
Todo e qualquer tratamento para algo emocional ou comportamental demanda tempo e dedicação de ambas as partes envolvidas, então nada de ficar triste e interromper as orientações se seu pet não melhorar em uma ou duas semanas, viu?!
Além disso, alguns pets necessitam de utilizar algumas medicações específicas, para isso é importante ter um veterinário de sua confiança acompanhando o quadro, pois assim ele conseguirá dizer se é o momento mais indicado ou não de começar com a medicação.
Caso você tenha identificado estresse em seu cão ou gato através das informações descritas no texto, a Guiavet pode te ajudar. Agende uma consulta com os nossos profissionais.