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índrome da Ansiedade por Separação (SAS) é um dos desafios mais comuns enfrentados por tutores e, infelizmente, muitas vezes mal compreendido. Essa condição pode causar grande desconforto emocional para os cães e dificuldades de manejo para os tutores. Neste artigo, vamos explorar o que é a Síndrome da Ansiedade de Separação (SAS), como ela surge, os fatores subjacentes que a agravam, formas de prevenção e, claro, como ajudar seu cão a superar esse problema.

O que é a Síndrome da Ansiedade por Separação (SAS)?

A ansiedade por separação ocorre quando um cão experimenta estresse extremo na ausência de seu tutor ou quando percebe que ficará sozinho. Embora seja normal que os cães sintam algum desconforto quando seus tutores saem, a SAS é caracterizada por reações excessivas, que vão além do comportamento típico de um cão saudável.

Sintomas mais comuns da SAS abrangem:

  • Latidos e choros excessivos: cães com SAS vocalizam incessantemente quando estão sozinhos.
  • Comportamento destrutivo: eles podem roer móveis, portas ou destruir objetos pela casa.
  • Urinar e defecar em locais inadequados: mesmo cães bem treinados podem fazer suas necessidades dentro de casa devido ao estresse causado pela separação.

Comportamento frenético ao ver o tutor: ao retornar, o cão pode demonstrar um comportamento de excitação excessiva.

Esses comportamentos podem ser tanto irritantes quanto preocupantes para os tutores, além de prejudicarem a qualidade de vida do próprio cão.

Prevenção da SAS: como evitar o desenvolvimento do problema

A prevenção é sempre o melhor remédio, especialmente quando se trata de problemas comportamentais em cães. Se o seu cão ainda é um filhote ou se você adotou recentemente um cão adulto, há várias ações que você pode tomar para reduzir as chances de que ele desenvolva a SAS. Dentre essas ações, a principal é ensinar o cão a ficar sozinho por curtos períodos, mesmo quando o tutor estiver em casa, o que pode ajudar a evitar o hiper apego. Além disso, criar uma rotina previsível com momentos de atividade, interação e descanso é imprescindível para manter o cão emocionalmente equilibrado.

Entendendo a raiz do problema: por que a Ansiedade de Separação acontece?

A SAS está geralmente ligada à forte ligação emocional que os cães têm com seus tutores. Isso não significa que o apego seja negativo, mas pode se tornar um problema quando o cão não sabe lidar com a ausência. Estudos mostram que cães que vivem em lares com apenas uma pessoa, ou cães que passaram por traumas, como abandono ou mudanças abruptas na rotina, têm mais chances de desenvolver a síndrome.

Mudanças drásticas no cotidiano, como a pandemia de COVID-19, também exacerbaram esse problema. Com o aumento do trabalho remoto, muitos cães ficaram extremamente apegados aos tutores, tornando a transição para o retorno ao trabalho presencial ainda mais difícil.

Para tratar adequadamente a SAS, é fundamental entender as possíveis causas subjacentes. Nem todos os cães desenvolvem essa condição, então por que alguns são mais suscetíveis que outros?

1. Relação de dependência excessiva

Cães, muito apegados aos tutores, tendem a sofrer mais com a separação. Isso é especialmente comum em cães que passaram por períodos de abandono, adoção tardia ou que tiveram uma ligação muito intensa com seus tutores desde filhotes.

2. Mudanças significativas na rotina

Mudanças bruscas na rotina, como a volta ao trabalho do tutor após um longo período em casa (exemplo, pandemia), podem desencadear a SAS. O cão, que estava acostumado a ter a companhia constante do tutor, de repente se vê sozinho por várias horas, o que pode gerar estresse e ansiedade.

3. Fatores genéticos e predisposição racial

Algumas raças de cães são mais predispostas a desenvolver SAS do que outras. Raças que foram historicamente criadas para trabalhar ao lado de humanos, como SRD e Shih-tzu  tendem a sofrer mais quando ficam sozinhas por longos períodos.

Quadro 1 - Resultados descritivos das raças que apresentaram os sinais da Síndrome de Ansiedade ( 57 animais).

Fonte: Moreira, 2022.

4. Eventos Traumáticos

Cães que passaram por situações traumáticas, como abandono, realocações frequentes ou maus-tratos, têm maior probabilidade de desenvolver ansiedade de separação. Esses eventos podem gerar medos e inseguranças que se manifestam quando o cão se vê sozinho.

Como ajudar seu cão a superar a SAS

Agora que você entende melhor o que é a SAS e suas causas, vamos discutir maneiras práticas de ajudar seu cão a superar essa condição. A SAS não tem cura instantânea, mas com paciência, consistência e técnicas adequadas, é possível reverter o quadro. O tratamento da SAS envolve principalmente a modificação comportamental, e em alguns casos, o uso de medicamentos para controlar a ansiedade.

Treinamento gradual para a ausência: um dos métodos mais eficazes para tratar a ansiedade de separação é através da dessensibilização. Comece saindo de casa por curtos períodos, aumentando gradualmente o tempo. Isso ensina o cão que sua ausência não é permanente.

Criação de uma rotina consistente: os cães adoram previsibilidade. Manter uma rotina regular de alimentação, passeios e descanso pode ajudar a reduzir o estresse. Evite mudanças abruptas na rotina, e sempre que for necessário fazer uma alteração, faça-a de forma gradual.

Não faça alarde ao sair ou voltar: muitas vezes, sem perceber, os tutores criam um evento ao sair de casa ou retornar, o que reforça a ansiedade. Em vez de se despedir com grandes demonstrações de afeto, saia calmamente e ignore o cão por alguns minutos ao voltar, até que ele esteja calmo.

Uso de enriquecimento ambiental: como mencionado anteriormente, o uso de brinquedos interativos pode manter o cão entretido e evitar que ele fique ansioso enquanto você está fora.

Terapias complementares: em casos mais graves de sas, pode ser necessário recorrer a terapias comportamentais com o auxílio de profissionais especializados. O uso de técnicas de modificação de comportamento, combinado com o apoio de veterinários comportamentalistas, pode fazer uma grande diferença.

O papel dos tutores na jornada de reabilitação

Como tutor, você desempenha um papel central na reabilitação do seu cão. Mais do que qualquer treinador ou veterinário, a maneira como você interage com o seu cão e lida com a SAS fará toda a diferença.

1. Paciência é a Chave

A reabilitação de um cão com SAS leva tempo. Muitas vezes, os tutores querem resultados rápidos, mas o progresso é gradual. Seja paciente e consistente com as técnicas de treinamento.

2. Não Punição

É essencial nunca punir um cão que apresenta comportamentos relacionados à SAS. A punição só aumenta a ansiedade e pode piorar a situação. Em vez disso, reforce os comportamentos positivos e trabalhe para criar associações tranquilas e seguras com a sua ausência.

3. Consultoria Profissional

Se você está tendo dificuldades para ajudar seu cão a superar a SAS, consultar um veterinário especializado em comportamento animal pode ser uma excelente opção. Em muitos casos, esses profissionais podem criar um plano de modificação comportamental personalizado, que inclui técnicas e estratégias específicas para ajudar seu cão a se sentir mais seguro.

Conclusão: a ansiedade por separação é tratável

A Síndrome da Ansiedade por Separação pode parecer um problema avassalador, mas com a abordagem correta, é possível melhorar significativamente a qualidade de vida do seu cão. Identificar os sinais precocemente, compreender as causas e implementar técnicas de modificação comportamental são os primeiros passos para ajudar seu cão a superar essa condição.

Lembre-se de que cada indivíduo é único, e o que funciona para um cão pode não funcionar para outro. A chave é personalizar o tratamento e ser consistente nas suas ações. Se precisar de ajuda, não hesite em procurar orientação de um especialista para garantir que o seu cão receba o cuidado que merece.

REFERÊNCIAS

BEAVER, B. V. Comportamento canino: um guia para veterinários. São Paulo: Roca, 2001.

 LANDSBERG, G. M. et al. Assessment of noise-induced fear and anxiety in dogs: Modification by a novel fish hydrolysate supplemented diet. Journal of Veterinary Behavior, v. 10, n. 5, p. 391-398, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jveb.2015.05.007. Acesso em: 17 set. 2024.

LINHARES, V. L. et al. O adestramento positivo como tratamento em cães com distúrbios comportamentais de ansiedade: Relato de caso. v. 12, n. 04. Londrina: Pubvet, 2018. 

MOREIRA, D. S. Avaliação da síndrome de ansiedade de separação (sas) em cães de companhia. Trabalho de conclusão de curso – bacharelado em Medicina Veterinária pela Faculdade Metropolitana de Anápolis (FMA). Anápolis, 2022.

MORGAN, L. et al. Human–dog relationships during the COVID-19 pandemic: booming dog adoption during social isolation. [S.I.]: Humanit Soc Sci Commun, 2020. 

Postado em
September 27, 2024
na categoria
Comportamento

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